20 março, 2011

Uma mulher na presidência. Dos Estados Unidos


Todo esse circo em torno da vinda ao Brasil do Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, me fez lembrar uma das séries de maior prestígio da TV americana, "Commander in Chief", exibida pela rede de TV aberta ABC entre 2005 e 2006.

Criada por Rod Lurie e estrelada por Geena Davis, "Commander in Chief" nos leva para conhecer a vida de Mackenzie Allen, uma promissora congressista independente do Estado de Connecticut e reitora da University of Richmond que fora escolhida pelo candidato do Partido Republicano Theodore Roosevelt a assumir o cargo de Vice-Presidente. Com a morte de Theodore provocada por um aneurisma Mackenzie ascende à presidência, tornando-se a primeira mulher a comandar a nação mais poderosa do planeta.

Os desafios de Mackenzie mostram-se maiores do que o imaginado quando ela se vê em meio a guerra pelo poder entre Republicanos e Democratas, e tendo que lidar com a descrença na sua capacidade de liderança por ser mulher e não ter partido. É o momento em que ela precisa impor seus ideais liberais de ex-congressista independente e mostrar que sua visão feminina e humana é o bastante para lidar com as questões do poder como "líder do mundo livre".

Não bastando os problemas da presidência, Mackenzie ainda precisa conciliar a vida pública com a particular. Como ser mãe e esposa ao mesmo tempo em que resolve um caso de terrorismo ou uma crise diplomática? Como lidar com o marido que não aceita o fato da esposa ser mais bem-sucedida do que ele? O que fazer com filhos problemáticos que perderam a presença materna?

Com ótimo roteiro e atuações primorosas, "Commander in Chief" teve tudo para ser um grande sucesso. As 14 indicações mais o Globo de Ouro de melhor performance recebido por Geena Davis mostram isso. Mas as premiações e elogios da crítica e do público não foram o suficiente para acabar com os desentendimentos entre a equipe e a emissora, levando ao cancelamento da série logo em sua primeira temporada.

Para sanar algumas questões não explicadas ao longo dos 18 episódios e dar uma nova visão à história, a ABC anunciou em 2006 que a série viraria filme, porém, os desentendimentos do criador, Rod Lurie, com a emissora também enterraram mais esse outro projeto.

Aos fãs de "Commander in Chief" resta apenas apreciar essa ótima produção com o box especial que inclui, além dos 18 episódios completos, extras bem esclarecedores sobre a produção e os motivos que levaram ao cancelamento da série. Àqueles que gostam de histórias sobre política e poder, fica aí uma ótima dica.


17 março, 2011

Quem precisa de trem-bala?

O trem-balada acabará com essa cena?
Nessa semana o Ministério Público Federal de Brasília questionou a licitação do famigerado trem-bala tupiniquim, pedindo sua imediata suspensão. Não, o questionamento não foi se é realmente necessário gastar tantos bilhões (mais de R$ 60 bilhões, para ser mais exato) em um único meio de transporte em um país cuja infraestrutura dos grandes centros urbanos (em especial São Paulo e Rio de Janeiro) beira o colapso por pura e completa incompetência governamental. Para quem esperava um questionamento moral e ético ficará decepcionado, pois o MPF/DF foi puramente técnico, referindo-se somente a algumas inconsistências na licitação.

Você que passa 2 horas no transporte público ou parado no congestionamento, saiba que o trem-bala é tratado como prioridade pela administração petista, que até o momento não demonstrou sinais de desistência desse que promete ser um dos maiores e mais caros elefantes brancos já vistos em solo brasileiro. E há duas razões para toda essa persistência. A primeira delas é a propaganda. A entrega de uma obra faraônica sempre foi o desejo dos nossos políticos. A massa gosta, a massa aplaude, a massa delira, e depois, a massa vota. A segunda razão é a financeira. Afinal, as empreiteiras precisam sacar os lucros dos investimentos na campanha eleitoral. E nada melhor do que uma gigantesca e bilionária obra faraônica.

R$ 60 bilhões em linhas de metrô diminuiria os congestionamentos
Quando ainda Presidente Lula tentou justificar o aporte de tantos bilhões de reais numa obra incerta dizendo que "o Brasil precisa perder o complexo de vira-lata" (seja lá o que um trem-bala tem a ver com isso). Na cabeça megalomaníaca do nosso ex-governante se países ricos possuem trens de alta velocidade, então o Brasil tem a obrigação moral de ter também, afinal, "não somos mais pobres". E para satisfazer seu ego insaciável seus pares evitaram lhe dizer o quanto o Brasil precisa evoluir para chegar ao ponto em que poderemos gastar tempo e dinheiro com extravagâncias. Também evitaram contar o quanto nossos aeroportos estão abandonados e o quanto o transporte público nas regiões metropolitanas está caótico.

Eles precisam de trem-bala?

Atualmente o Brasil conta com pouco mais de 29 mil quilômetros de trilhos, enquanto a malha americana ultrapassa os 220 mil quilômetros. É ingenuidade pensar que construindo uma única linha moderna e cara compensará décadas de verdadeiro abandono da malha ferroviária e todos os problemas do país em infraestrutura serão resolvidos. No transporte das regiões metropolitanas o cenário é ainda pior. Em São Paulo o sistema metroviário conta com míseros 69 quilômetros de trilhos e 60 estações (Nova York possui 468 estações distribuídas em mais de mil quilômetros de trilhos).

Dizem que Dilma Rousseff é mais centrada nas questões administrativas e menos performática do que seu antecessor. Esperamos então que ela dedique um pouco mais de tempo para analisar o projeto do trem-bala e mostre seu lado sensato reconhecendo o quanto essa obra é desnecessária para o nosso país e tenha a decência de dar um destino mais apropriado para os bilhões dos nossos impostos.

14 março, 2011

A Renault contra a liberdade de expressão


"Abuso do direito de liberdade de expressão". Foi essa a decisão da 1ª Vara Cível de Concórdia (SC) contra Daniely Argenton, consumidora que criou o site Meu Carro Falha para denunciar o descaso com que a montadora Renault trata o problema com seu carro, um modelo Mégane, comprado há mais de três anos e que desde então nunca funcionou corretamente. A montadora, ao invés de seguir o caminho mais óbvio (trocar o veículo defeituoso), optou por acionar a justiça para punir a consumidora insatisfeita.

Numa clara e torta definição do que seria "prejudicar a imagem da montadora", o juiz Renato Maurício Basso determinou que Daniely retire do ar o site e os perfis do Facebook, Twitter e YouTube que eram usados para a divulgação do problema enfrentado por ela, que até então foi completamente ignorado pela Renault. A pena pelo não cumprimento dessa decisão será de R$ 100 ao dia.

Será que não passou pela cabeça do juiz que a própria montadora é a culpada pela inevitável perda de imagem? Uma companhia que escolhe o caminho da punição dos seus clientes insatisfeitos deveria estar ciente das consequências decorrentes de sua atitude arbitrária e burra. E mais, um veículo que nunca funciona corretamente e uma montadora que não honra seu compromisso de oferecer a garantia amplamente divulgada em anúncios não terá sua imagem prejudicada por uma eventual denúncia de um cliente insatisfeito, e sim por sua incapacidade administrativa e operacional de lidar com uma crise.

A Renault poderia muito bem aprender com a Brastemp, que recentemente também se viu em meio a campanha de um cliente raivoso. A divulgação dos problemas enfrentados pelo cliente levou o nome da Brastemp a ser uma das palavras mais citadas no Twitter, o que imediatamente chamou a atenção da empresa. A Brastemp, sendo uma empresa consciente do valor da sua imagem a ser preservado e de que um problema com um de seus produtos é de inteira responsabilidade dela, entrou em contato com o cliente e resolveu o problema. Em seguida veio a público pedir desculpas e reconhecer a falha.

Falta à Renault esse mesmo senso de responsabilidade, de vir a público reconhecer suas falhas e tentar ao máximo satisfazer seus clientes e corrigir possíveis erros em seus produtos. A montadora terá de escolher se continuará utilizando os meios arbitrários para calar seus clientes, ou se resolverá da única forma imaginável e sensata. Afinal, o estrago da imagem já foi feito, com ou sem campanha.


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