06 setembro, 2010

Moralidade, orgulho e outras histórias



A palavra "exoneração" ganhará nova definição a partir de hoje. A partir deste momento "exoneração" significará liberdade. Liberdade para seguir o que acredito, liberdade para tomar as decisões que acredito serem as melhores para mim.

É de conhecimento de todos o nojo que sinto pelo ambiente político brasileiro e o quanto desprezo o trabalho burocrático e emburrecedor que movimenta a máquina pública. Em meu código de ética está escrito em letras garrafais a busca pelo fim da corrupção denunciando irregularidades com o uso do dinheiro público e o acompanhamento da atuação dos poderes municipal, estadual e federal no que diz respeito ao meu dever como cidadão brasileiro. Posto isso, o que dizer da situação de fazer parte de uma equipe dedicada a maquiar e ludibriar a população com a fantasia de fazer um trabalho sério no trato com o dinheiro público?

Integrei desde fevereiro de 2009 a equipe de auditoria de contas públicas da Secretaria de Estado de Economia e Planejamento do Governo de São Paulo. Meu trabalho consistia em analisar as prestações de contas das Prefeituras Paulistas de obras feitas com recursos estaduais repassados a título de troca de apoio político. Em pouco mais de um ano fui obrigado a ir contra tudo o que anseio em uma sociedade desenvolvida e um Estado forte e transparente. Fui obrigado a aprovar contas de uso do dinheiro público mesmo quando era clara sua ilegalidade. E tudo isso por um salário 5 vezes menor do que deveria ser, tendo em vista a importância da função desempenhada. Vi meu nome escrito em pareceres fajutos aprovando processos fraudulentos.

Numa rápida busca pela Internet encontraremos diversos casos envolvendo a Secretaria de Economia e Planejamento. A mais célebre de todas ficou sendo o episódio em que o Danilo Gentili, repórter do programa "CQC" (Band) apanha de funcionários e do ex-Prefeito da cidade de Analândia, interior do Estado, ao mostrar irregularidades envolvendo uma obra tocada pela Prefeitura. A obra em questão era o sistema de coleta do esgoto da cidade que nunca existiu, mas que teve o dinheiro repassado e suas contas aprovadas pelo Departamento de Apoio ao Desenvolvimento das Estâncias (DADE), hoje sob o guarda-chuva protetor da Secretaria de Economia e Planejamento. (assista a parte 1 e parte 2 da reportagem).

Na Internet você também encontrará a reportagem do jornalístico matutino "São Paulo no Ar" (TV Record) mostrando uma rua da cidade de Mairiporã, na Grande São Paulo, que nunca viu asfalto, mas que teve dinheiro repassado integralmente para a obra, suas contas foram aprovadas, e consta como concluída pela Prefeitura. A obra teve a verba repassada pelo Fundo Metropolitano de Financiamento e Investimento (FUMEFI), também sob a proteção da Secretaria de Economia e Planejamento.

E o que dizer da descoberta do esquema de fraudes em licitações promovidas pela Prefeitura de Monte Aprazível, também no interior do Estado? A Secretaria de Economia e Planejamento assinou diversos convênios com essa cidade, mas se diz "surpresa" com o caso. É realmente possível uma secretaria com a importância como a do Planejamento não ser capaz de detectar irregularidades em licitações como as encontradas pela polícia e pelo Ministério Público?

Mas daí você pergunta: "Só de escândalos envolvendo obras públicas vive o Planejamento?". Não, caro leitor. Eles também partiram para contratos duvidosos, como o que prevê o aluguel do prédio onde hoje se encontra sua sede por mais mais de R$ 230 mil mensalmente, durante 4 longos anos, sem qualquer tipo de licitação. E como não poderia deixar de ser, pelo contrato serão pagos, no total, mais de R$ 11 milhões a um velho conhecido dos políticos, dono do imóvel.

Não há consciência cívica e política que aguente por muito tempo toda essa imundície que há anos se aloja no poder público. E não há o que fazer para mudar essa situação quando todos ignoram o fato e até lutam para continuar do jeito que está. Manter-se correto no ambiente em que pessoas ganham favores e presentes de políticos como forma de agrado pelo "bom serviço prestado" é desgastante. Muito desgastante. E para conquistar algum cargo com um bom salário nunca é levado em conta se o funcionário se dispõe a desempenhar da melhor forma possível suas funções. Isso é o que menos importa para o Governo. Os quesitos realmente valorizados são parentescos ou uma inegável capacidade de beijar mais bundas no menor tempo possível (chamam isso de "fazer política"). Mas afinal, se meu trabalho em si não será valorizado e sim meu grau sanguínio com alguém importante ou o quanto aguento puxar saco, qual o sentido de continuar trabalhando? Qual o sentido de desempenhar esse trabalho sendo que minha capacidade nunca será reconhecida e valorizada?

Um ano e alguns meses depois, chego a essas conclusões e decido por entregar meu cargo, uma vez que não terei valorizados minha bagagem cultural, meu histórico e muito menos meu senso crítico (diziam que essas coisas são o resultado de minha "imaturidade"). Deixo para trás pouco mais de um ano que poderia ser completamente esquecível, não fosse por pouquíssimas pessoas realmente inesquecíveis. De lá levarei essas poucas e boas amizades, e tentarei esquecer as coisas revoltantes.

Então, a partir de agora, é voltar à estaca zero (se é que eu já não estava lá...) e finalmente encontrar algo que seja gratificante, digno e que valha o esforço.

12 comentários:

Funcionário Público disse...

Postagem que merece ser publicada pela mídia....de tirar o chapéu...

Unknown disse...

espero que encontre o q deseja, um trabalho honrado e honroso - note que há diferença entre os dois, pelo menos eu acho.

a respeito da política pública? bem... explicável mas não justificável... num mundo em que as pessoas só se importam consigo mesmas, pra quê ligar se muitos tem sistema de esgoto ou não, quando você pode simplesmente pegar a verba e construir uma piscina aquecida no seu quinta que há muito tempo você planeja?...


abçs

Roberto disse...

entendo e torço.
um abraço,

K. disse...

integridade é o que falta
não a vc, óbvio
=)

Luiz Korsakoff disse...

Faz mais do que o esperado.
Vc tem muito mais a ganhar mantendo sua integridade, sem se rebaixar ao universo paralelo do funcionalismo público, onde o paternalismo e a falta de honestidade imperam.
É muito bonito alguém de fora falar isso mesmo sabendo que empregos não caem do céu, mas com a sua "imaturidade" adquirida, vc não ficará a ver navios.
Sucesso e sorte nos novos desafios.

Cidadão disse...

Vivemos numa época onde ainda existe, de forma maquiada, o Compadrio, o Coronelismo, o Caciquismo e demasiado Paternalismo.....affff.....e parece que a solução ou mesmo a extinção para tais práticas estão longe longe longe de acontecer....infelizmente temos que assistir essa piada sem poder fazer nada....

Anônimo disse...

cara tomara que vc tenha provas do que vc esta dizendo!!!
Ia adorar ver isso publicado!!!
O TCE la na Jau ou até o MP oferecendo denuncia!!!!
Eu continuo estudando pra ver se consigo sair daquela secretaria!

Anônimo disse...

Desculpem mas como tem babacas nesse blog, a começar pelo dono. Trabalho no TCE e nunca vi uma denuncia contra o Planejamento. Além disso é DESNECESSÁRIO fazer licitação para locação de prédios públicos. Só isso já tira a credibilidade desse estelionatário chamado Tiago. ALÔ POLICIA FEDERAL!!!! OLHO NELE!!!! quanto ele está ganhando do pt?? iSSO É CHANTAGEM!!! Vamos meter esse vagabundo na midia!!!! Vejam o exemplo da EXTORSÃO na Receita Federal!!! Alô Policia Federal!! Olho nele!!!!!!!!!

Unknown disse...

"Em meu código de ética está escrito em letras garrafais a busca pelo fim da corrupção denunciando irregularidades com o uso do dinheiro público e o acompanhamento da atuação dos poderes municipal, estadual e federal no que diz respeito ao meu dever como cidadão brasileiro."

Nesse caso, entendo sua exoneração como uma fuga ao seu proprio codigo de ética, afinal, você estava "com a faca e o queijo na mão" para exercer plenamente esse direito como cidadão e durante todo esse tempo, só resmungou e abandonou essa "ferramenta" importante para exercer seu objetivo.

Amanda disse...

Para o que você fala aqui é preciso ter provas. Você tem consciência de que pode sofrer um processo pelo que você escreveu????
Espero que sim pois parece ser bem inteligente, pois é direto no que escreve.
E se for isso for verdade mesmo você deve ter mexido com "gente grande".
Tenha consciência de que por mais que seja sua opinião expressa aqui, as provas tem que existir senão você pode acabar com um processo nas costas.
Suposições não provam nada!!!!

Anônimo disse...

Amanda,
Voce está corretíssima! Além do total desconhecimento da legislação de licitações por parte do dono desse blog - afinal, cadê a lei que determina licitações para aluguel de prédios? - gostaria de saber se esse blogueiro idiota tem curso superior COMPLETO para que pudesse ganhar o salário 4 vezes maior como ele mesmo diz que "merece"...

Anônimo disse...

Bom vamos lá?!
Em casos como a de locação de um prédio, a licitação torna-se dispensável, ou seja, apesar da viabilidade de competição a administração segundo critérios de oportunidade e conveniência, pode não realizar o procedimento se assim for melhor ao interesse público.
OK.
Outro ponto digno de nota é a aplicação da teoria dos motivos determinantes que diz que, uma vez motivado o ato administrativo, ele está vinculado a estes mesmo motivos que se verificados inexistentes ou inconsistentes, deverá o judiciário anular tal ato.
Isso posto temos que o ato que determina a dispensa ou a inexigibilidade de licitação deve ser motivado e por tanto está vinculado para ser válido ao que foi divulgado em tal ato.
A Pergunta? O que foi motivado no ato?
Que por motivos financeiros e de logística deveria ser alugado tal edifício.
Então vamos lá...
motivos financeiros??????
certamente o aluguel deste prédio deve ser mais barato que um aluguel na 7 de Abril pra economizar o dinheiro público que é tanto meu quanto seu.
Logística???????
certamente fica mais fácil trabalhar com um pedaço da secretaria na Al. Santos outro na Jaú, um tanto no Itaim e outro Tanto no Morumbi.
Outra pergunta!!!!
Pq alugar um prédio de alguém que é suspeito de corrupção junto ao Governo Paulista?
Será que realmente este ato é válido?
Não responda apenas reflita.
Mas vc acha que é só isso, não compre a minha idéia ainda pois vc ainda ganha outra reflexão de presente.
Pq será que eu ou vc que temos curso superior e no meu caso pós-graduação, somos mais inteligentes que alguém que não tenha?
Será isso um problema de inteligência ou um problema social,de exclusão social?
Será que eu que tenho curso superior e pós-graduação sou mais inteligente que o presidente que nunca foi à faculdade?
Não responda reflita...
Eu tinha mais a escrever mas minha mão está doendo.
AH, eu vou continuar estudando...

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