30 novembro, 2010

O fim do sonho americano

Os Estados Unidos travam uma grande batalha contra seus mais de 11 milhões de imigrantes ilegais. São pessoas que escolheram a casa do Tio Sam em busca do "sonho americano", das grandes oportunidades, levando em suas malas diferentes culturas, crenças e costumes. Como lidar com todas essas diferenças no país que deixou de ser a terra da liberdade para virar um hospício xenófobo?

Os atentados de 11 de setembro afloraram ainda mais a paranóia americana contra tudo o que não se encaixa nos valores estabelecidos pelo "jeito americano de viver". Pensamentos, atitudes e costumes árabes deixaram de ser vistos com os olhos da razão para serem tratados subjetivamente como ameaça à segurança nacional. Seria essa a atitude do país que se autodenomina o "líder do mundo livre"?

E o que dizer daqueles que sonham em se tornar cidadãos americanos, mas que ainda cultivam crenças medievais que vão contra as crenças americanas?

O filme "Território Restrito" ("Crossing Over"), dirigido por Wayne Kramer, mostra um pouco dos grandes problemas da imigração ilegal nos Estados Unidos, e como Governo e população lidam com esse assunto. Com inúmeros personagens representando diferentes nacionalidades, cada um com seu motivo para a busca do "sonho americano", o filme tem Harrison Ford como o agente do departamento de imigração, e Alice Braga, sobrinha de Sônia Braga, numa pequena aparição, mas interpretando o personagem com maior relevância na história.

Ao assistirem "Território Restrito" muitos lembrarão de filmes como "Babel" e "Crash", também baseados em diversos personagens interligados pelo mesmo tema. Mas não por isso deixa de ser um bom filme, seja pelos atores, ou pela história, que para alguns é cansativa, mas que para outros é esclarecedora. O que conta aqui é saber um pouco mais sobre como os americanos lidam com o "diferente" e o que vale a pena fazer para conquistar o tão sonhado Green Card.



27 novembro, 2010

Chega de Casseta!

Depois de quase 20 anos sairá do ar um dos programas mais longos, entediantes e sem graça da TV brasileira. Estou falando do totalmente dispensável "Casseta & Planeta" (TV Globo), que teve seu fim anunciado ontem (26) pela emissora carioca.


A TV Globo afirma que a descontinuação de um de seus principais programas não foi uma decisão de sua diretoria. "É uma decisão dos humoristas", disse ela. Mas se olharmos com um pouco mais de atenção veremos que tudo indicava que "Casseta & Planeta" não merecia mais fazer parte do horário nobre da TV aberta. A começar pela qualidade. Há muito se sabe que os cassetas causam mais bocejos do que risadas. Suas piadas ficaram velhas e os quadros e paródias das novelas da emissora eram mais do que previsíveis. Não houve novidades, transgressões, preocupação em se reinventar ou em fazer experimentações. A trupe entrou numa zona de conforto profunda e sem volta. O resultado foi uma audiência estagnada e insatisfeita, chegando a amargar míseros 20 pontos de média, considerado insatisfatório para o horário nobre, e humilhante para os humoristas, levando-se em conta as médias conquistadas pelo programa em anos anteriores.


Dizem que o humor na TV aberta precisa ser escrachado, estereotipado, sem qualquer preocupação com a boa produção e o bom roteiro (aqui podemos lembrar de programas como "Toma Lá Dá Cá", "Sai de Baixo", "A Diarista", entre outros) para atingir o cidadão comum. Mas o que vimos nos últimos anos foi caindo por terra a teoria do telespectador que aceita qualquer coisa que lhe ofereçam. Cada vez mais os telespectadores buscam programas de humor esperando mais do que um homem vestido de mulher em situações absurdas, personagens estereotipados sem qualquer propósito, ou frases de efeito repetidas programa após programa. Com o advento da Internet e da TV por assinatura com suas séries e programas de humor estrangeiros, hoje o telespectador tem à sua disposição infinitas possibilidades de encontrar aquilo que melhor lhe agrada. E com mais informação é natural passar a exigir mais daquilo que lhe é oferecido. Afinal, chega uma hora em que se torna cansativo tantos programas que trazem um humor que nos trata como meros receptores sem senso crítico e sem capacidade de raciocínio.


Podemos afirmar que "Casseta & Planeta" chegou perto de se tornar um "A Praça É Nossa" da TV Globo. O que diferencia as duas atrações é a humildade dos cassetas em reconhecer que precisavam de uma grande mudança para não cairem no esquecimento. E essa mudança virá já em 2011, como afirmaram os humoristas. Eles aproveitarão suas férias estendidas para repensar um novo formato, dessa vez mais adequado à realidade do que o telespectador deseja. Assim, ganhamos todos. Eles continuam no ar, e nós ganhamos mais uma opção de entretenimento. E dessa vez esperamos que tenha mais qualidade.

22 novembro, 2010

Os amigos não estavam lá por ele


O país inteiro está chocado após a divulgação das imagens da câmera de segurança que captou o momento exato da agressão contra um jovem gay ocorrida na Avenida Paulista no último dia 15, praticada por outros também jovens com clara falta de ocupação, pais omissos e fortes tendências à homossexualidade enrustida (me desculpem, mas todos aqueles que optam pela agressão a homossexuais de forma gratuita tem SIM um pezinho no lado GLS, mas que teimam em esconder).

As cenas são realmente aterradoras e revoltantes, mas outra coisa chamou minha atenção, e que para mim é igualmente revoltante: a insensibilidade dos dois amigos que acompanhavam o jovem agredido covardemente. Vendo o amigo ser espancado, eles apenas continuam andando, ignorando o amigo que precisava de socorro. E no vídeo vemos eles parando e observando, como se o que estava acontecendo fosse algo corriqueiro, sem qualquer gravidade. Lá parados pareciam estar pensando "Não é com a gente mesmo... Quando terminarem, arrastamos o corpo para o metrô". Nem ao menos esboçam preocupação em buscar ajuda, ligar para a polícia, ou até mesmo partir para a briga em defesa do pobre coitado. Simplesmente ignoraram o fato de que eles também poderiam ter sido escolhidos pelos agressores, e que se isso acontecesse, eles torceriam para que seus amigos os ajudassem.

Por mais que o momento fosse de total perplexidade e espanto com a agressão gratuita, o mínimo que se espera seja o apoio dos amigos em situações adversas. Afinal, amigos são aqueles que estarão sempre ao seu lado, não importa o quão grave seja o momento. E naquelas imagens o que vi foram dois covardes que são tão culpados quanto os agressores. Omissão é um grande erro. E a omissão quando um amigo necessita de ajuda é um erro maior ainda, sem espaço para justificativas.

09 novembro, 2010

ET Bilu e o jornalismo verdade


Um dos assuntos mais comentados do ano está sendo o ET Bilu, uma fantasia criada por Urandir Fernandes de Oliveira, o famoso [autodenominado] paranormal que fez fama indo a programas popularescos da TV aberta para entortar garfos e facas e fazer alguns truques de mágica chamados por ele de "paranormalidade".

O suposto ET ficou famoso após uma longa reportagem exibida no programa "Domingo Espetacular" (TV Record) mostrando os mistérios e projetos desenvolvidos em Ziguratis, uma comunidade utópica cravada numa cidadezinha de Mato Grosso do Sul que tem por objetivo "construir uma nova forma de pensamento mundial", de acordo com texto publicado no site oficial de Urandir.

A reportagem mostrou o que seria o grande golpe da vida de Urandir, que vende terrenos em troca de salvação pelos alienígenas que mantém contato com ele. A própria Ziguratis, segundo Urandir, foi projetada por seres de outro planeta para que alguns seres humanos saiam ilesos após o grande apocalipse que está por vir (mediante o pagamento de uma pequena fortuna em troca do direito de construir uma casa no local).

Para atrair turistas e possíveis compradores de terrenos, Urandir disponibilizou na comunidade diversos entretenimentos, transformando o local em um verdadeiro parque de diversões intergaláctico. De túneis que dão acesso a cidades alienígenas subterrâneas, centrais de monitoramento espacial a aparições de OVNIS, ETs e luzes no meio da mata, tudo é feito para que os incautos se impressionem com o quanto Urandir é íntimo dos seres do espaço.

O ápice do tour intergaláctico acontece com a aparição do já pop Bilu, um "intraterreno" (Urandir explica que no subsolo da terra há enormes colônias de alienígenas, daí o "intraterreno") com 4010 anos, e que veio ao planeta Terra auxiliar os seres humanos na busca pelo conhecimento e salvação do fim do mundo. E ele sempre vem à superfície para trazer ensinamentos para mudar o mundo. Seu ensinamento mais famoso, dito para as câmeras da TV Record, é o "Busquem conhecimento", seja lá o que isso significa.

Agora circula pela rede um vídeo divulgado pelos simpatizantes de Urandir mostrando o que seriam trechos da reportagem que não foram levados ao ar pela emissora que mostrariam que Bilu é realmente um alienígena no meio de nós.

O lema do jornalismo da TV Record é "Jornalismo Verdade". A julgar por essa e outras reportagens que beiram o bizarro e o escroto, algumas não passando do mais puro sensacionalismo, a emissora do bispo mostra que esqueceu de aprender que audiência também pode ser conquistada pela qualidade, pela seriedade e honestidade. Optando pelo caminho contrário a TV Record decide por seguir uma fórmula cansada, errática e que, mesmo dando alguns pontos de audiência a mais agora, cobrará um enorme preço num futuro próximo. Então é bom o bispo começar as orações, pois até o momento a única coisa que a TV Record conseguiu foi virar motivo de piadas.

06 novembro, 2010

Aprenda geografia com James Bond


Metade no mundo vê um Brasil cheio de estereótipos, onde as únicas coisas que existem por aqui são negros, florestas, samba e Rio de Janeiro. E nada melhor do que filmes para perpetuarem essa imagem.
Acabo de assistir "007 Contra o Foguete da Morte" ("Moonraker"), de 1979, o 11º do agente secreto mais famoso do cinema, dirigido por Lewis Gilbert (que também dirigiu outros dois filmes da série). Dessa vez James Bond (Roger Moore) precisa impedir o vilão bem malvado e multimilionário (eles são sempre assim...) Hugo Drax de levar a cabo seu plano maligno de exterminar a raça humana. E essa busca, quem diria, leva o agente a serviço da rainha a desembarcar no Brasil.
O tour começa pelo Rio de Janeiro. Para onde a câmera aponta há pessoas fantasiadas e sambando. Parece que todo mundo anda pulando de alegria e felicidade no ritmo contagiante do samba. É a cidade do carnaval, onde ninguém faz mais nada a não ser... sambar!
Com seus planos na terra do carnaval eterno não saindo como o planejado, James Bond vai de encontro ao seu chefe vestindo um lindo modelito "México encontra Rio Grande do Sul", e recebe instruções de partir imediatamente para o outro lado do Brasil que os estrangeiros conhecem, o "Norte do Amazoco" (sim, é exatamente assim que falam no filme), para continuar tentando impedir que o malvado multimilionário conclua suas maldades de higienização do planeta.
E em meio à fuga dos capangas do vilão pelos rios do "Amazoco", Bond se depara com... as cataratas do Iguaçu (!). Momento de apreensão... medo... O que ele vai fazer agora...? Mas, como sempre, o agente secreto tinha uma carta na manga e consegue sair dessa enrascada voando direto para o meio da mata, onde acaba encontrando uma... pirâmide maia (!).
Está achando essa miscelânea bizarra? Então espere até ver James Bond partindo da floresta amazônica direto para o espaço sideral. E o que combina com espaço sideral? Roupas prateadas e douradas e armas de raios laser, tudo no mais puro ritmo de "Guerra nas Estrelas".
Enfim, "007 Contra o Foguete da Morte" é um completo amontoado de bobagens e limitações intelectuais. É sem dúvida um dos piores filmes da série de James Bond. E muitos vão dizer que é assim mesmo, que filmes de ação não devem seguir a realidade, numa espécie de "licença poética" do cinema. Mas lembre-se que há uma enorme diferença entre "ficção" e "avacalhação".

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